terça-feira, 30 de agosto de 2016

Santa Ciência !

Devemos confessar uma coisa : ao pesquisar a respeito da origem da palavra VIKING ficamos com mais dúvidas .....Entre os especialistas em ETIMOLOGIA , ou seja , a origem das palavras , existem duas correntes : uma que defende que esse termo  teve origem em uma antiga antiga palavra presente nas línguas escandinavas ( a Escandinávia equivale a região formada por Suécia , Dinamarca , Noruega , a ilha da Islândia e a Finlândia ) , VIK , que significa " baía , fiorde ( ABAIXO , UM FIORDE NA NORUEGA ) , enseada e riacho " ou ainda na palavra VIG , que significa " batalha " .

Já a outra corrente defende que VIKING vem de uma antiga palavra já há muito desparecida da língua inglesa - WIC - e de um termo latino - VICUS - sendo que ambas as palavras  significam "acampamento " . O fato é que na Europa medieval esses povos não eram chamados de VIKINGS ( GRAVURA ABAIXO -  geralmente eram chamados de "pagãos " , "nórdicos " e "dinamarqueses " )

e é muito provável que o nome VIKING tenha tido origem em uma expressão encontrada em alguns raros textos RÚNICOS ( o tipo de escrita utilizada por esses povos - ABAIXO , PEDRA COM INSCRIÇÃO RÚNICA , NA CIDADE SUECA DE SKAENNING ) : "I VIKING " , que significa algo  mais ou menos  como " ir em uma missão de comércio , de saques e de expedição guerreira " .

Se a origem e o real significado da palavra VIKING são nebulosos , por outro lado não há a menor dúvida da imagem que as maioria das pessoas geralmente têm deles (ABAIXO )  : piratas , saqueadores , estupradores , selvagens e ainda por cima utilizando um chapéu esquisito - para não dizer , ridículo - de chifres ( na verdade faziam uso de chapéus em forma cônica ) .......

Quem não se contentar em ficar preso ao chamado SENSO COMUM e ao que dizem mídia , filmes , histórias em quadrinhos e a visão distorcida da maioria das pessoas , logo perceberá que a civilização foi algo muito , mas muito maior : criaram outras civilizações , fundaram cidades ( incluindo DUBLIN - ABAIXO - , a capital da Irlanda ) ,

dinamizaram o comércio e a navegação europeus ( já praticamente desaparecidos desde o colapso do Império Romano  no século 5 ) , tinham uma certa noção de igualdade e de altíssima relevância do papel feminino em suas comunidades ( de certa maneira os vikings acabaram abrindo espaço para que seus descendentes - suecos , dinamarqueses , noruegueses , finlandeses e islandeses - estejam nos dias atuais entre as mais desenvolvidas e igualitárias sociedades do planeta- ABAIXO , UMA VISÃO DE ESTOCOLMO , A  BELA CAPITAL SUECA  )

e a sua riquíssima MITOLOGIA - com as suas fabulosas SAGAS e personagens fantásticos , como ODIN ( a principal divindade viking : era relacionado à guerra , à sabedoria , à magia e à poesia ) , THOR ( divindade irascível ligada ao trovão e à guerra ) , LOKI ( divindade malévola e zombeteira ) e as VALQUÍRIAS ( ABAIXO - guerreiras de cabelos dourados e armadura brilhante ) - não fica nada a dever à mitologia grega ......

Porém , uma dessas figuras mitológicas vikings nos chamou a atenção : trata-se do deus THYR ( ABAIXO - também chamado de Thyrr , Ziu e Tîwaz ) .....Diziam e acreditavam os antigos vikings que essa divindade era filha de um gigante que vivia no limite do céu e que atendia pelo nome de HYMIR : sendo representado como um homem corajoso , heroico e sem sua mão direita ( ele a teria perdido ao colocá-la na boca do deus-lobo FEMRIR .....ai !!! ) , teria sido o percursor do deus Odin . Tendo como símbolo uma lança , além de ser patrono da Justiça , era ainda uma divindade ligada ao céu , aos juramentos , ao combate e À LUZ .

Aqui em terras de Dona Francisca também houve um THYR..... Não , não era nenhum ser divino , místico , com super poderes ou guerreiro , mas uma simples pessoa de carne e osso : metódico , visionário , empreendedor e  detalhista , foi por sua iniciativa que aquele pacata Joinville do princípio do século 20 ( ABAIXO , ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE JOINVILLE EM 1907 )  acabou sendo incluída no mapa da modernidade . Mas antes de citarmos e comentarmos a respeito dessa figura iremos ao princípio , mais precisamente ao ano de 1896 ......

     Nessa ocasião era prefeito de Joinville - ou superintendente , como se chamava na época - FREDERIC BRUESTLEIN ( 1835-1911 ) , que apesar do sobrenome germânico , era francês da cidade de Mulhouse ( para saber mais a respeito dele e de outros franceses radicados em Joinville , ver o texto "VIVE LE FRANCE ! " , postado no último dia 13 de julho ) . Idealizador de dois dos maiores e mais conhecidos pontos turísticos de Joinville - a alameda de palmeiras imperiais que hoje leva seu nome ( ABAIXO , EM FOTO PROVAVELMENTE DE 1893 ) e o antigo Palácio dos Príncipes , hoje Museu Nacional de Imigração e Colonização - por muito pouco e novamente por sua iniciativa , um feito ainda mais extraordinário não aconteceu : em uma época em que raríssimas cidades no mundo tinham um sistema de iluminação pública movido a ELETRICIDADE , por muito pouco Joinville acabou não entrando nesse seletíssimo grupo . 

Para essa missão Bruestlein acabou escolhendo o engenheiro alemão GUSTAV PROBST e a escolha não ocorreu por acaso : Probst era especialista em assuntos hidroelétricos , funcionário da empresa SIEMENS E HALSKE ( que tinha sede em Berlin ) , seus pais viviam em Blumenau e ultimamente estava envolvido um projeto para dotar aquela cidade de iluminação pública elétrica . Após conhecer e realizar um amplo estudo da CASCATA DO PIRAÍ e ainda de ter participado de duas reuniões - a primeira na então sede da Prefeitura de Joinville ( ABAIXO - no local hoje existe o PALACETE NIEMEYER ) e a outra no SALÃO BERNER ( esse , que foi o local de fundação do Corpo de Bombeiros de Joinville , localizava-se na hoje rua Nove de Março e em frente à atual praça da Biblioteca Pública ) -

 naquele 7 de fevereiro de 1897 Probst trouxe uma grande notícia : a Cascata do Piraí não só tinha um enorme potencial hidrelétrico como só um trecho do rio PIRAÍ , conhecido como RANCHO DAS PEDRAS , tinha capacidade para gerar uma energia com potência de 1.200 cavalos , algo fabuloso para a época ( nessa ocasião o engenheiro também chegou a sugerir a utilização da CASCATA DO QUIRIRI - ABAIXO ) e tudo isso por um valor relativamente baixo .....

E essa reunião foi mesmo produtiva : nessa mesma ocasião criou-se a SOCIEDADE POR AÇÕES DE LUZ E FORÇA , embrião de uma futura empresa municipal de eletricidade . Para formar a sua diretoria foram escolhidos os seguintes nomes : o sempre presente OTTOKAR DOERFFEL , como presidente ( ele ainda era uma liderança comunitária bastante atuante e influente , apesar de já ter 79 anos de idade ) ; M . ENZMANN , como vice-presidente ; OSCAR ANTÔNIO SCHNEIDER ( prefeito de Joinville entre 1907 e 1911 e hoje nome de uma rua próxima ao Cemitério Municipal ) , como secretário , e GUSTAV ADOLF RICHILIN ( ABAIXO - primeiro prefeito eleito de Joinville , entre 1899 e 1903 ) e ALEXANDRE SCHLEMM ( um dos magnatas da indústria joinvilense da erva-mate ) , como tesoureiros . 

Além de produzir e fornecer energia elétrica para ruas , estabelecimentos públicos e indústrias da cidade , a empresa representada pelo engenheiro Probst - SIEMENS E HALSKE - ainda ganharia a concessão desse serviço por 50 ANOS ! Porém , a alegria durou pouco : para evitar prejuízos , o governo de Joinville exigiu uma garantia de juros pelo dinheiro ( ABAIXO )  a ser aplicado no projeto , algo que a empresa alemã acabou não concordando .....

Em virtude de um convite feito pelo prefeito Bruestlein ( ABAIXO ) , um engenheiro francês chamado PAUL DARCHE chegou a se reunir com os vereadores - então chamados de conselheiros municipais - em 5 de outubro , ainda de 1897 , e a dar continuidade aos estudos inciados anteriormente . O novo projeto chegou também a ser mandado para as comissões de finanças e obras públicas da Câmara de Vereadores para estudos , porém acabou caindo no esquecimento , o francês nunca mais apareceu em Joinville e a ideia definitivamente acabou "morrendo na casca "......

      Agora entra aqui aquela figura visionária , a qual havíamos citado no primeiro parágrafo e que , por sinal , também era francês : ÉTIENNE DOUAT , engenheiro radicado em Joinville desde 1874 ( entre 1874 e 1880 ele foi o principal engenheiro responsável pela abertura da antiga ESTRADA DONA FRANCISCA - ABAIXO - , hoje a rodovia estadual SC-301 ) . 

Naquele que talvez tenha sido o mais ambicioso e ousado de seus projetos , em 1903 ele adquiriu uma vastidão de terras  que estavam localizadas a oeste da Estrada Blumenau e que iam até a Serra Geral , incluindo o rio Piraí e a cascata de mesmo nome ( ABAIXO - essa enormidade de terras pertencia a um príncipe alemão conhecido como SCHOENBURG-WALDEMBURG ) 

e dois anos anos mais tarde , acompanhado de um engenheiro alemão chamado BERNHARD LECHTENFELS iniciou um detalhado estudo do potencial hidrelétrico da região chegando à conclusão de a Cascata do Piraí ( ABAIXO , PIQUENIQUE REALIZADO NESSA REGIÃO , EM FOTO DE 1914 ) era capaz de gerar uma energia com potência de 3.000 cavalos e que para construir uma usina na região seriam necessários 150 contos de réis .

 A parte mais difícil não era conseguir esse dinheiro mas sim tentar convencer vereadores e prefeito - que naquele ocasião era PROCÓPIO GOMES DE OLIVEIRA ( 1859-1934 ) - a lhe darem a CONCESSÃO do serviço : o fato de ele vir a ser executado por uma empresa privada era mal visto por muitos ( alguma semelhança com os dias atuais ? ) . Depois de um longo período de impasses e de negociações , que durou cerca de um ano , finalmente Étienne Douat e governo de Joinville já estavam falando a mesma língua : em 22 de dezembro de 1906 foi assinado um contrato que dava à empresa a ser formada pelo engenheiro francês o direito de explorar o serviço por 25 anos ( por uma espécie de pré-contrato , assinado em 24 de dezembro de 1905 , essa empresa também teria o direito de explorar o serviço de transporte público por bondinhos , algo que só veio a sair do papel em 1911- ABAIXO , BONDINHO NA RUA DO PRÍNCIPE , EM FOTO DE 1913  ) . 

Por uma dessas cruéis ironias o francês que tanto lutara e se dedicara ao projeto não pôde prossegui-lo : durante uma caçada ele foi atingido em uma de suas pernas por uma bala de chumbo disparada acidentalmente de uma espingarda ( Huuuum......muito esquisito ! ) e em 13 de junho de 1907 acabou repassando a concessão para um dos magnatas da indústria joinvilense de erva-mate , DOMINGOS RODRIGUES DA NOVA JÚNIOR . Quase que imediatamente ele se juntou a OLÍMPIO NÓBREGA DE OLIVEIRA e a ALEXANDRE SCHLEMM para formar , oficialmente em 24 de outubro de 1907 , a EMPRESA JOINVILENSE DE ELETRICIDADE ( sua sede funcionava na Rua do Príncipe ) e logo em seguida contratar os serviços do engenheiro alemão HEINRICH HINDEN . ( NA FOTO ABAIXO , ALEXANDRE SCHLEMM É O DE BRANCO E DOMINGOS DA NOVA É O QUE ESTÁ MAIS À FRENTE DE TODOS ) 

Foi descoberto que a Cascata do Piraí ( ABAIXO ) tinha uma segunda queda , que media 445 metros de altura e tinha enorme potencial hidrelétrico e que , próxima à primeira queda havia uma bacia natural de água - perfeita para a sua captação para gerar energia - que tinha uma área de 20 metros quadrados e uma profundidade de 4 metros . 

E COMO SE FARIA PARA PRODUZIR E SE DISTRIBUIR ENERGIA ELÉTRICA ? Entre essa bacia natural e a a futura usina seria instalado um tubo ( ABAIXO ) com 35 centímetros de diâmetro e com capacidade para fornecer 200 litros de água por segundo . Na futura usina , que mediria 12 metros por 8 metros , por sua vez , seria instalada uma verdadeira parafernália de equipamentos : 


duas turbinas com reguladores automáticos (cada uma delas teria uma potência de 200 cavalos ) , dínamos , transformadores e ainda 3 quadros de mármore , que teriam a função de distribuir e regular a força . Entre os 20 quilômetros que separam a região do Piraí do centro de Joinville seriam construídas 8 casinhas feitas de tijolos e cal ( cada uma dessas mini usinas teria uma energia com capacidade de 220 volts ) e existiria ainda um serviço telefônico para entrar em caso de alguma eventualidade .......( ABAIXO , OPERÁRIOS QUE TRABALHARAM NA CONSTRUÇÃO DA USINA E FOTO , TIRADA EM 1908 , DE SUA CONSTRUÇÃO ) 


      Em 28 de setembro de 1908 , época em que a usina do Piraí já estava quase que concluída e com uma pequena alteração que havia ocorrido na empresa a explorar o serviço ( Procópio Gomes de Oliveira - ABAIXO - , que tanto havia criticado a privatização do serviço de energia em Joinville substituíra Olímpio Nóbrega de Oliveira no comando acionário da empresa ) , finalmente foi assinado o contrato entre o governo de Joinville e a Empresa Joinvilense de Eletricidade : ficou definido que a empresa instalaria 220 lâmpadas em vários pontos da cidade e que receberia ainda uma subvenção do governo municipal no valor de 12 contos de réis .

 Como não existe jantar de graça , em compensação a empresa ficou obrigada a manter gratuitamente 40 lâmpadas no Hospital São José , 9 lâmpadas na sede da Prefeitura ( que na época funcionava onde hoje é a PRAÇA NEREU RAMOS ) , 4 lâmpadas no Mercado Municipal e ainda mais 2 lâmpadas de arco voltaico no cais do antigo porto do Mercado ( ABAIXO , EM FOTO DE 1920 )  . A título de experiência , entre as 19 horas e as 20;30 horas de 3 de fevereiro de 1909 e pela primeira vez , várias ruas do centro de Joinville foram iluminadas com luz elétrica , o que foi comemorado com muitos fogos de artifício ! 

Mas , como manda o velho figurino , a inauguração oficial só ocorreu em 14 de fevereiro : com as presenças de várias autoridades e de expressiva massa popular , ela foi dividida em 2 partes e ocorreu em 2 locais ( na primeira parte , realizada na usina receptora localizada na então Rua do Meio - hoje Quinze de Novembro - coube ao poderoso médico , empresário , político e então vice-governador do Estado  ABDON BATISTA - ABAIXO - dar volta à chaves e inaugurar oficialmente a eletricidade em Joinville ; já na outra parte , realizada na sede da Prefeitura , foi lavrada a ata de inauguração ) , contando com os tradicionais blablablás oficias das autoridades e com um farto banquete com vários tipos de doces , como manda a tradição germânica .....

Na primeira parte da inauguração o bispo DOM JOÃO BECKER benzeu , rezou uma prece em latim , jogou água benta nas máquinas de eletricidade e saudou a empresa mas as suas bençãos parecem não ter surtido efeito : por 3 vezes , durante a inauguração , a LUZ CAIU e o fornecimento de energia elétrica só foi normalizado em 27 de fevereiro ......Logo descobriu-se a causa : na "boca " do encanamento que descia para as turbinas da usina do Piraí ( ABAIXO ) havia uma forte sucção e com isso formava-se um redemoinho que entrava na tubulação e paralisava as turbinas . Simplificando : como manda a velha e infame politicalha brasileira , a obra foi inaugurada antes do tempo e sem ser concluída !

 Outro fato curioso : não pagava-se por consumo e sim pela INTENSIDADE , ou seja nos locais mais próximos da usina da rua XV de Novembro pagava-se a taxa máxima de 5 mil-réis por mês e nos locais mais afastados e de menor intensidade de luz  , a taxa mínima de 1 mil-réis mensais ( ABAIXO , A ATUAL RUA MARINHO LOBO - ANTIGA ARAGO - E QUE UMA DAS PRIMEIRAS RUAS DE JOINVILLE A RECEBEREM LUZ ELÉTRICA )  . Apesar das trapalhadas ocorridas naquele quente e movimentada noite de fevereiro de 1909 , a Empresa Joinvilense de Eletricidade teve vida longa :

 em abril de 1929 acabou dando lugar à Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A ( EMPRESUL , também com sede em Joinville - mais precisamente no hoje absurda e vergonhosamente abandonado prédio da CELESC , no centro da cidade - tinha filiais em Jaraguá do Sul , São Bento do Sul , Mafra e Tijucas ) , que por sua vez acabou substituída pela estatal Centrais Elétricas de Santa Catarina ( CELESC ) na década de 50 ......Bom , depois desta longa viagem pela história agora é hora de relaxar : o vídeo do dia é uma maravilhosa vista da CASCATA DO PIRAÍ , incluindo a histórica usina hidrelétrica ( ABAIXO )  .....VALE A PENA CONFERIR ! 

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