quinta-feira, 28 de abril de 2016

E Se......

Que a cidade de Joinville tem uma história vencedora não há menor dúvida : pouquíssimas cidades no mundo podem ter o orgulho de ostentar uma história de superação como a de Joinville    ( ABAIXO )  , ou seja , de um minúsculo e precário povoado em meio ao mato e em uma região de clima quente e úmido e solo lodoso  tornou-se dentro de algumas décadas uma das mais progressistas cidades de seu país ,

chegando a ter um PIB ( a soma dos valores de tudo o que se produz ao longo de um ano )  maior até do que a da Hungria ! ( ABAIXO , A CAPITAL DAQUELE PAÍS : BUDAPESTE )

 Por uma dessas incríveis contradições , um dos grandes protagonistas dos primórdios de Joinville , e talvez um dos maiores responsáveis pela própria existência da cidade  , era um perdedor......Natural da cidade de BLACZKOWO , no então reino da Prússia ( hoje a cidade faz parte da Polônia - ABAIXO , MAPA E BANDEIRA DO REINO DA PRÚSSIA ) ,


BENNO VON FRANKEMBERG-LUDWIGSDORFF era oficial do Exército de seu país e em 1848 tomou aquela que seria uma das piores decisões de sua vida : alistou-se no Exército da região de SCHLESWIG -HOLSTEIN , que desde o século 15 estava sob domínio dinamarquês embora sua cultura e língua fossem de maioria esmagadoramente germânicas . Formado em sua maioria por voluntários , o improvisado Exército local acabou sendo facilmente derrotado ( ABAIXO , GRAVURA REPRESENTANDO ESSA GUERRA ) e os seus antigos integrantes tiveram como destino aquilo que a gíria e o bom humor populares chamariam de "rua da amargura " : sem direito a pensão alguma , receberam uma irrisória indenização que mal dava para cobrir suas despesas e acabaram simplesmente abandonados .

Sabe-se lá por quais motivos , embora jamais tenha exercido algum cargo administrativo , Frankemberg acabou caindo nas graças da diretoria da Sociedade Hamburguesa e como muitos de seus ex-colegas de farda e armas acabou tendo a então colônia Dona Francisca como destino . Após uma estadia de 14 dias no Rio de Janeiro , viajou a bordo do patacho PEREIRA ( um patacho era um tipo de embarcação costeira de pequeno porte - ABAIXO -  e na citada embarcação , além de Frankemberg , estavam mais 8 pessoas , entre eles dois futuros diretores da colônia Dona Francisca - LEONCE AUBÉ e OTTO NIEMEYER - que estavam retornando para a colônia após uma viagem ) , embarcação que chegou a São Francisco do Sul em 27 de agosto de 1851 ,

e a sua função era bastante espinhosa : substituir EDUARD SCHROEDER ( filho do acionista majoritário da Sociedade Hamburguesa : CHRISTIAN MATHIAS SCHROEDER - ABAIXO ) , ou seja , SER O DIRETOR DA COLÔNIA . Após morar provisoriamente em um pequeno e rústico rancho que funcionava como um improvisado hospital ,

 Frankemberg acabou ganhando o seu próprio lar , e que lar ! Tratava-se de uma das raras casas da colônia a ter janelas com vidro e a sua construção acabou custando 540 mil réis , uma fortuna para a época ......Além de suas funções administrativas , Frankemberg  também foi um dos pioneiros da indústria joinvilense : nove imigrantes noruegueses haviam criado , exatamente no local onde hoje está o prédio onde funcionou até 1996 a sede da Prefeitura de Joinville ( ABAIXO ) , uma olaria que funcionava em regime cooperativista e que em março de 1852 acabou sendo vendida justamente para Frankemberg .

       Aquela propriedade acabou sendo ampliada , existindo até mesmo uma plantação de cana de açúcar , e por sugestão de um mestre ceramista conhecido como LIEPERT , foi instalada uma cerâmica , mais exatamente na esquina entre as atuais ruas DOUTOR JOÃO COLIN ( ABAIXO ) e GASPAR . Curiosamente o mestre da cerâmica não era o tal Liepert mas sim HEINRICH LEPPER e já em junho daquele ano de 1852 parte de sua produção foi exportada pelo porto de São Francisco do Sul .

 Após ter exercido o cargo de diretor da colônia até 1856 , Frankemberg ainda seria um dos diretores responsáveis pela construção da ESTRADA DONA FRANCISCA ( atual SC-301- ABAIXO  ) , inspetor de obras públicas e faleceria aos 65 anos em sua própria fazenda , que não era muito distante do centro de Joinville , mais especificamente em 16 de maio de 1882 .

 E COMO FOI A SUA ADMINISTRAÇÃO  ?  A resposta aparece em uma anônima carta datada de 24 de agosto de 1852 ( presume-se que o seu autor teria sido CARL AUGUST LUDWIG SCHETELIG ,  que na ocasião tinha apenas 19 anos , também foi um dos integrantes do derrotado Exército de Schleswig- Holstein e que veio a bordo do NEPTUN , navio que chegou a São Francisco em 12 de dezembro de 1851 trazendo a terceira leva de imigrantes para a colônia Dona Francisca ) : a tal carta traz um relato muitíssimo realista da situação e do cotidiano da colônia , ( ABAIXO , GRAVURA QUE REPRESENTA CASA DE MORADOR DA COLÔNIA DONA FRANCISCA )

fazendo duríssimas críticas às suas autoridades e até mesmo denúncias bastante graves ( em uma delas , Frankemberg é acusado , juntamente  com Leonce Aubé - ABAIXO - , de cooptar um líder comunitário - identificado apenas pela letra W - e com isso sabotar o CONSELHO COMUNAL , entidade criada pelos próprios imigrantes para defender seus interesses e que funcionava de maneira independente da Sociedade Hamburguesa )  ........

Em um determinado trecho da carta , o seu autor se refere assim a Frankemberg : " O Diretor v. Frankemberg tratava os seus com chicote , que ele brandia sobre sua cabeça como um enérgico pastor . Ele tratava as pessoas por 'vocês ' , e creio que só por isso não atingia seu objetivo ; pois como todos sabem , neste século esclarecido até mesmo os gansos querem ser tratados por 'senhor ' , e só aceitamos o 'vocês ' em histórias de cavaleiros ......" O autor da carta a encerra de maneira categórica : " O Diretor v . Fr. pode ser um bom soldado , não posso julgar , todavia certamente não é nem de longe o mais qualificado para dirigir os primeiros passos de uma colonização . Não soube conquistar a confiança dos colonos ( ABAIXO , OUTRA GRAVURA REPRODUZINDO UMA CASA TÍPICA DE UM COLONO )  , e essa situação sempre vai ser-lhe um estorvo . " ........

Polêmicas à parte  foi justamente de Frankemberg uma decisão que se revelaria crucial não só para o sucesso do empreendimento da Sociedade Hamburguesa como também para a existência de Joinville......( ABAIXO , FOTO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA NA ÉPOCA DE SUA INAUGURAÇÃO , EM 1906 ) 

      O objetivo da empresa de Hamburgo era claríssimo : criar dois empreendimentos distintos - CIDADE DE JOINVILLE e  COLÔNIA AGRÍCOLA DONA FRANCISCA - , fato que consta não só em documentos e relatórias da empresa como também no primeiro mapa da colônia ( ABAIXO )  , feito em 1852 mas só publicado no ano seguinte . 

Por uma decisão de Frankemberg , em outubro de 1852 os dois empreendimentos foram oficialmente unificados , adotando-se o nome de JOINVILLE ( o núcleo inicial de Joinville chegou a se chamar SCHROEDERSORT , ou , "lugarejo de Schroeder " - ABAIXO - ; na carta anônima que comentamos há pouco , o seu autor fez um trocadilho com esse nome : SCHANDERSORT , ou algo como " lugarejo da VERGONHA " ......) . 

É óbvio que o SE não existe mas isso não impede um exercício de imaginação : não custa imaginar como seriam essas duas cidades , a primeira englobando a maior parte dos atuais 1.183 quilômetros do município de Joinville e tendo como sua área central o que seria hoje o bairro do BUCAREIN ( ABAIXO ) 

e a outra hipotética cidade englobaria o equivalente hoje a área rural de Joinville , tendo provavelmente como centro a atual localidade  de ANABURGO ( ABAIXO )  , região rural do bairro Vila Nova . 

Em relação a essa segunda e hipotética cidade - com território , população e força econômica muito inferiores aos da primeira -  , caso o plano da Sociedade Hamburguesa de criar " a maior colônia agrícola da América do Sul " fosse mesmo adiante , seria o grande celeiro de Santa Catarina , tendo nos cultivos de arroz ( ABAIXO , CULTIVO DE ARROZ IRRIGADO NO VILA NOVA )  , banana , hortaliças , na bovinocultura leiteira e criação de peixes e em grau muito menor , os cultivos de cana-de-açúcar , mandioca , tomate , milho , pepino , beterraba , batata doce , frutas e criação de abelhas , os pilares de sua economia .

 Também teria enorme importância na economia dessa imaginária cidade as indústrias artesanais de produtos alimentícios - conservas , geleias ( ABAIXO )  , doces , melados , iogurte , queijo , ricota , nata , pães , biscoitos e bolachas (  huuuummmm!!!!! ) - e que mais tarde poderiam vir a se tornar grandes multinacionais desse setor , a exemplo do que ocorreu no oeste do Estado . 

E mais : as belezas incríveis dessa região , com trechos da Serra do Mar e de Mata Atlântica e rios encachoeirados certamente a tornariam um grandes pólos turísticos do Estado . ( ABAIXO , A LOCALIDADE DE RIO DO JÚLIO )

Agora iremos deixar a imaginação de lado e voltar a 2016 : o vídeo do dia traz depoimentos de moradores desses pequenos pedaços de Paraíso ( ABAIXO ) . Trata-se de uma das matérias de uma interessante série de reportagens a respeito dos 165 anos de Joinville , produzida pela afiliada local da TV RIC RECORD .......VALE A PENA CONFERIR ! 

Um comentário:

  1. Colônia D Francisca e Joinville. Essa eu e 99,9 ℅ dos Joinvillenses não fazia ideia. Valeu a força, soldado Frankemberg

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