quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mutirão de Amores

Segundo o último censo , realizado em 2010 , a população brasileira de 190.755.799 pessoas . Nesse universo gigantesco apenas 0 , 47 %  da população , ou exatamente 896.917 indivíduos eram índios , que por sua sua vez dividiam-se em 246 povos . Sem dúvida alguma , números inexpressivos em se tratando de um a etnia que um chegou a ser de milhões de pessoas e de milhares povos ......Para se ter uma ideia , a população indígena do país é inferior à população de SÃO GONÇALO , município da região metropolitana do Rio de Janeiro e que em 2013 tinha 1.038.081 habitantes ......A população indígena hoje pode ser uma minoria mas é inegável a sua presença nos mais diversos setores da sociedade brasileira . Uma dessas valiosas heranças está na própria língua que falamos : vários termos , como CABOCLO , CATAPORA , ABACAXI , GAMBÁ , TORÓ e PIPOCA são de origem indígena . Nesta vasta galeria está a palavra MUTIRÃO : ela tem origem no termo POTYROM , palavra tupi que significa " pôr as mãos juntas , trabalhar junto " , que por sua vez tem origem no termo PÔ ( não é brincadeira , é verdade ! ) , que significa " mão " . Entende-se como mutirão aquele trabalho comunitário , muitas vezes não só em prol da própria comunidade como também a favor de um grupo de pessoas desassistidas ou portadoras de necessidades especiais . Por vezes um mutirão também pode ter finalidades gastronômicas ........É o que nos conta hoje o Forrest Gump de Joinville  ROBERTO SZABUNIA : em uma crônica de dar água na boca dos leitores ele aproveita para mais uma vez relembrar  suas , fazendo o trocadilho , DELICIOSAS HISTÓRIAS ocorridas ainda no tempo em que viveu em sua amada e natal Rio Negrinho . CONFIRA :



"Essa crônica não se refere à obra maravilhosa das senhoras reunidas sob o



Mutirão do Amor , aqui em Joinville . ( ABAIXO )



 Nem tampouco ao samba de Jorge Aragão . ( ABAIXO )





O mutirão do título é aquele que me vem à memória todos os anos , por essa



época : a produção de bolachas de Natal .





Admiro e invejo – no bom sentido , claro – as famílias , tanto cá de baixo quanto



lá de serra acima , ( ABAIXO , VISTA DE RIO NEGRINHO )



que mantêm a tradição das bolachas e dos biscoitos típicos



do fim de ano .



Penso que , guardadas as devidas diferenças , tudo continua



igual . Nas minhas lembranças vem algum sábado qualquer de meados de



novembro . A agitação começava durante a semana, com a compra dos



ingredientes nas duas vendas do bairro Alegre . ( ABAIXO )



 Como as quantidades eram



grandes , envolvendo quilos de farinha e açúcar e litros de melado , entre outros



itens , muito precisava ser encomendado junto a atacadistas .





No dia da produção , minha babushka, a Baba ,



 comandava a atividade no



rancho . Ela , tia Maria e tia Zefa



eram as ' bolacheiras oficiais ' , determinando



quantidades e fazendo as misturas dos ingredientes . Aos homens que se



dispusessem a colaborar cabiam tarefas auxiliares , sem atrapalhar . Na



verdade , as mulheres davam conta do recado tranquilamente . Ah , sim , é bom



salientar : meu tio Ênio ,



 funcionário da latoaria do Waldemar Bublitz ,



 produzia



os moldes das bolachas ; restos de latão , alguns deles ainda mostrando



resquícios das marcas Samrig e Primor ,



viravam estrelas , corações , meias-



luas , cabeças de Noel e pinheirinhos . Depois, era só pressionar os moldes



sobre a massa esticadinha , dando forma às bolachas . Quanto mais moldes ,



mais mãos pressionando , e aí sim o mutirão pegava pra valer .



Simultaneamente , o velho moedor de carne se transformava em moldador de



massa ,



e pelos seus furos saía o que viria a ser o biscoito de amendoim .



Lá fora , no outro ranchinho , o forno



enchia o ar com a aromática fumaça , uma



mistura dos cheiros de lenha e das bolachas e biscoitos prontos . Quilos e



quilos de delícias incomparáveis deixavam o forno a bordo das incansáveis



fôrmas retangulares .



 Assim que esfriavam um pouquinho , as bolachas seguiam



de volta pro rancho . Era a hora de confeitá-las , cobrindo-as com nata colorida e



açúcar cristalizado .



 Os biscoitinhos , por sua vez , já iam do forno para as latas ;



alguma quantidade , claro , ficava em latas menores , na despensa, para



consumo imediato . Já as bolachas , ah , essas seriam quase todas guardadas



para o Natal ;



umas poucas, sem cobertura , podiam ser saboreadas na hora ,



ainda quentinhas , ' só pra experimentar '  . Imagine , curioso leitor e ávida leitora ,



aguentar aquele aroma inigualável e poder mastigar só uma ou duas bolachas .





Para as crianças era uma verdadeira tortura !





O mutirão do amor das bolachas representava , mais que tudo, o início da



época mais aguardada do ano .



A partir dali , o espírito natalino tomava conta de



Rio Negrinho (meu pequeno universo de então - ABAIXO , VISTA DE RIO NEGRINHO , NOS ANOS 60 ) .



A rádio passava a tocar com



mais frequência as faixas do disco de Luis Bordon com sua harpa ; ( ABAIXO )



 na vitrine da



Relojoaria Confiança as revistas davam lugar ao presépio mecanizado ; na



outra vitrine, da Casa Meyer , babávamos vendo os brinquedos maravilhosos ;





as prateleiras das vendas ficavam multicoloridas com os papais noéis de



chocolate Buschle ;



e todos os corações transbordavam de ansiedade,



expectativa e amor .





Hummm... Tô sentindo cheirinho de bolacha no ar..."


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