terça-feira, 27 de outubro de 2015

Não Existe Pecado......

Ele era o que poderíamos chamar de UM SUJEITO BRILHANTE  : o holandês CASPAR , ou KASPAR , BAARLE ( 1584-1648 , em latim o seu nome era GASPAR BARLAEUS ) era um POLÍMATA , ou seja aquele raro tipo de pessoa com amplos conhecimentos nas mais variadas áreas e que também exerce diversas atividades . Embora tenha se formado em TEOLOGIA e chegado a seguir a carreira religiosa 9 foi clérigo ) , era de formação humanista e uma pessoa extremamente culta , não se prendendo aos dogmas religiosos . Foi professor na universidade holandesa de Leiden e também exerceu o magistério no então LICEU DE AMSTERDAM , estabelecimento que deu origem a Universidade de Amsterdam . Também foi poeta ( a maior parte de seus poemas foi escrito em latim ) , filósofo , cartógrafo , historiador e médico . Era o típico sujeito que não aguentava ficar muito tempo parado : traduziu a obra DESCRIÇÃO DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS , de autoria do cronista ANTÔNIO DE HERRERA Y TORDESILLAS ( 1559-1625 ) ; escreveu um texto para um atlas geográfico da Itália , organizado por JACOBOS HONDIUS e no período entre 1625 e 1651 escreveu 8 preciosíssimas obras , quase todas de cunho histórico e geográfico e riquíssimas tanto em matéria de informações quanto de mapas e ilustrações . O igualmente culto e humanista nobre-militar JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU ( 1624-1679 ) foi , em 1637 , escolhido coma árdua tarefa de administrar a vasta região conquistada e ocupada pelos holandeses no Brasil e tratou de se cercar de um verdadeiro exército , de cientistas , artistas  sábios e conselheiros . Obviamente uma figura tão brilhante como Caspar Baarle não poderia ficar de fora !

     Aliás , boa parte , senão tudo , do que sabemos a respeito do Brasil no período da ocupação holandesa deve-se  Caspar : em 1647 foi publicada em Amsterdam uma descrição com o gigantesco título de " História Dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos No Brasil E Noutras Partes Sob O Governo de Vessel , Tenente-General De Cavalaria Das Províncias Unidas Sob O Príncipe De Orange " ( não é brincadeira , o título é esse mesmo ! ) e tão gigantesca quanto o seu título é a quantidade de mapas e ilustrações encontradas nela . Caspar foi uma figura tão importante em seu tempo , que acabaria mais tarde batizando uma rua em Amsterdam e outra na pequena cidade de Nieuwe Tongue , onde chegou a viver ; mas , pelo menos no Brasil , não foi por sua erudição e obras que Caspar tornou-se famoso mas sim por uma frase.......Séculos mais tarde o escritor EUCLIDES DA CUNHA ( 1866-1909 ) , em seu livro À MARGEM DA HISTÓRIA , resgatou uma frase escrita por Caspar ainda no século XVII : " Ultra aequinotialem non pecavi " , ou " NÃO EXISTE PECADO DEBAIXO DO EQUADOR " , o que é uma referência aos desmandos que infelizmente já existiam no Brasil naquele remoto século XVII........Décadas mais tarde , coube ao poeta-cantor-compositor  CHICO BUARQUE , em parceria com RUY GUERRA , popularizar essa frase compondo uma música que acabou sendo interpretada e gravada pelo performático NEY MATOGROSSO em 1978 . Uma frase célebre também pode dar crônica........Pegando como "gancho " a famosa frase do erudito holandês , ROBERTO SZABUNIA - o Forrest Gump de Joinville - inicia coma crônica de hoje uma série de textos abordando sobre os chamados SETE PECADOS CAPITAIS . CONFIRA :



"...do lado de baixo do Equador...( ABAIXO , TRECHO DA LINHA IMAGINÁRIA DO EQUADOR QUE ATRAVESSA O BRASIL )





Assim Chico compôs e Ney ( ABAIXO )



cantou na abertura de uma novela dos anos 70 ,



' Pecado Rasgado ' . ( ABAIXO )



 A canção abordava o pecado capital nº 5, a luxúria.



 Ei, por



que nº 5 ? Porque sim. Segundo o site universocatolico.com.br, não há



consenso sobre a classificação, então usei a boa e simples ordem alfabética.



Acho que a Chanel também fê-lo ao numerar seu famoso perfume.





Mas o objetivo dessa crônica é abrir debate sobre o radicalismo. Na doutrina da



Primeira Comunhão e nas aulas de Religião, no colégio, aprendi que avareza,



gula, inveja, ira, luxúria, preguiça e soberba são pecados e ponto final.



Nos



momentos que antecediam a confissão ,



 facilitava as coisas : era só dar uma



repassada nos sete pecados e nos Dez Mandamentos, conferindo o que fora



transgredido.



Pois bem, voltando ao radicalismo, busco atenuantes para fugir dele. Pegue o



nº 1, por exemplo. Avareza é o apego ao dinheiro.



 Depende... Se aludirmos a



exemplos radicais, como o personagem Ebenezer Scrooge



do ' Conto de Natal '



de Charles Dickens; que inspirou Carl Barks a criar o Tio Patinhas ;



 que por sua



vez levou Chico Anísio a personificar o Gastão. ( ABAIXO )



Sim, neste caso, a avareza é



condenável. Scrooge acaba por se redimir, após as visitas lá dos seus



fantasmas, mas Patinhas e Gastão chegam a extremos em sua avareza. Haja



penitência pra tanta transgressão a um único pecado !





Agora, peguemos outro lado da moeda, quando em vez de avareza um sofrido



trabalhador pensa apenas em poupança.



Pode-se chamar de avarento um



sujeito que deixa de adquirir um presente de Natal, quando seu salário mínimo





mal dá pra comprar um frango no lugar do peru ? É um desalmado o pai de



família que aplica uma parte do suado e minguado décimo-terceiro numa ceia



com direito a um chester



e duas cidras, substituindo presentes pra esposa,



filhos, sogros e netos ? Que penitência se pode aplicar ao casal que comemora



bodas de prata com um churrasquinho no quintal ,



 pois o dinheiro não dá pra ir



ao restaurante ? E as moedas negadas ao pedinte na esquina, e gastas nos



pãezinhos da filharada, tilintarão no caldeirão do belzebu ?





Avareza, sim, condenável ao tridente do capeta, é posar de ' defensor dos



interesses da sociedade ' e solapar bens públicos em benefício próprio.





Avarento é o sujeito que, escudado por um mandato político, engorda a ceia



natalina da família com cifrões escondidos em cofres suíços.





Pão-duro tanto pode ser o Gastão do Chico Anísio, enfiando a faca na



melancia e permitindo que cada membro da família dê uma lambida, pra



economizar a fruta.



 Isso é até engraçado, mas nosso saudoso humorista já



deixava ali as lições de como a avareza é nociva. Agora, pense bem : como fica



o pão duro (sem hífen, neste caso) comprado há uma semana pelo trabalhador





citado anteriormente, e amolecido na água, pra durar mais ?



' O dinheiro passa a ser tudo '



tem definições diferentes, dependendo das



circunstâncias. ' Tudo '  acomodado em invioláveis cofres de paraísos fiscais é



uma coisa. ' Tudo ' resumido a menos de dez pilas pra refeição da família é



outra. O espeto do tinhoso tá reservado pra quem ?





Ora vejam, era pra analisar cada um dos pecados capitais, e acabei gastando



todo o espaço com um só. Não fui avarento, viu ? ( ABAIXO , ROBERTO SZABUNIA )  Volto ao tema nas próximas



crônicas . "


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