segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A Mãe Do Ariticum

Corria o ano de 1626 e um novo governador foi escolhido para administrar o " Brasil " : militar de carreira e nobre , ostentava o título de CONDE DE MIRANDA , DIOGO LUÍS DE OLIVEIRA acabou sendo o escolhido para a difícil missão . Você já deve ter pensado : por que o nome BRASIL aparece entre aspas ? Na verdade o que hoje conhecemos e chamamos de Brasil tinha cerca de metade do território atual e não passava de um nome genérico e remoto para um amontoado de capitanias cujo única característica em comum era o fato de pertencerem a Portugal . Como se não bastassem os precários meios de comunicação que existiam à época , havia a ameaça , sempre constante , de ataques indígenas ; as abissais diferenças entre as regiões daquele colossal território e ainda a possibilidade , mais do que concreta , de uma invasão estrangeira . Desde o já distante ano de 1580 Portugal e Espanha formavam um só reino e os HOLANDESES , antigos aliados e parceiros comerciais dos portugueses eram agora seus inimigos : a secular rivalidade entre Holanda e Espanha era o pretexto mais do que ideal de que os batavos precisavam para invadir o " Brasil " . Eles estavam de " olho gordo " no então principal produtor de açúcar do mundo , especialmente na então capitania de Pernambuco e já haviam tentado , sem sucesso , conquistar a Bahia e o Espírito Santo . Em 1630 o nosso bravo conde-militar ( ele foi governador-geral do Brasil até 1635  ) ganhou um problemão : os holandeses  invadiram Pernambuco e após chegarem a conquistar quase todo o Nordeste brasileiro ,só seriam definitivamente expulsos em 1654 ......

    Entre tantas notícias ruins , pelo menos uma notícia boa :  o próprio Diogo Luís de Oliveira trouxe um diferente tipo de árvore cujos frutos tinham um aspecto até gozado, parecendo uma baga e quase esféricos , mas que eram gostosíssimos e de um sabor incrivelmente doce . Praças , ruas , monumentos , estátuas ......todos eles têm nome de algum figurão histórico , não é mesmo ? Pois talvez o Brasil seja o único lugar do mundo em que um figurão histórico virou nome de fruta  e em homenagem a Diogo Luís de Oliveira , o conde de Miranda , aquela saborosa fruta recebeu o nome de FRUTA DO CONDE .......Cientificamente o seu nome é ANNONA  SQUAMOSA , é natural da região do Caribe e , dependendo da região do Brasil , é chamada de ATA , ANONA , PINHEIRA , ATEIRA , PINHA , QUARESMA , ARITICUM ou ARATICUM , os dois últimos nomes apenas aqui no sul do país . Vivendo preferencialmente em regiões de clima tropical , suas árvores são ramificadas e têm uma altura que varia entre 4 e 6 metros ; confundida com a ANNONA CORIACEA ( seus frutos são muito mais doces que a dessa última ) , seus frutos pesam entre 200 e 400 gramas e são utilizados na produção de doces , sorvetes e CRÔNICAS .............Em uma crônica de dar água na boca , o jornalista e contador de histórias ROBERTO SZABUNIA usa a deliciosa fruta como um pretexto para relembrar saudosas passagens de sua infância na sua querida e natal Rio Negrinho . CONFIRA :



"Mãe de quem? Cuspa aqui, se for macho !





Calma, calma, não tô xingando ninguém. É apenas uma comparação. Acabo



de ver um post no Facebook, de uma pessoa segurando uma baita fruta-do-



conde, ou ata, anona, nona ou qualquer nome que lhe deem, dependendo da



região.



Descobri essa fruta deliciosa quando vim morar em Joinville, há quase



quatro décadas. Logo percebi a similaridade com outra, o tal ariticum ali do



título, que saboreava na infância serra acima. ( ABAIXO , DESFILE DE ALUNAS DE COLÉGIO PÚBLICO NA RUA LUIZ SCHOLTZ - RIO NEGRINHO , NA DÉCADA DE 60 )





Colhíamos ariticum em qualquer matinho, pois sua árvore nascia fácil, graças



aos pássaros espalhando as sementes –



 e nós também, como se verá adiante.



Como a época de colheita é o alto verão, era uma fruta de férias, de dezembro



a março,



pegando o comecinho das aulas. Pra quem é daqui, de serra abaixo,



e não conhece a fruta, imagine uma anona. O formato é idêntico, mas diminua,



até ficar do tamanho de uma bola de tênis. Lá dentro, é tudo igual: a polpa



macia envolvendo as sementes escuras. Aí vem a diferença no sabor:





enquanto a ata ( ABAIXO ) é doce-doce (chega a ser enjoativa quando madura demais),



o



ariticum é agridoce (mais azedo do que adocicado). Na urbanizada Joinville de



hoje,



você provavelmente comprou uma asséptica embalagem de anonas no



supermercado



 e vai saboreá-las dentro de casa, o que obriga a colocar as



sementes no pratinho ou algo assim. A imagem que me vem da adolescência



era mais caipira: colher as frutas no pé, numa das árvores ao lado do



campinho,



 e devorá-las ali mesmo, quantas coubessem no bucho. Quanto aos



carocinhos ( ABAIXO ) , o óbvio neste caso: cuspi-los o mais distante e ruidosamente



possível; havendo mais de um piá, era inevitável a batalha, cada um tentando



acertar a fuça do outro.





Ah, importante: o nome oficial da fruta é ariticum (ou araticum, ' fruta macia '  em



tupi).



Mas claaaaaaro que ficava muito melhor eliminar o eme no final, o que



proporcionava impagáveis – e impublicáveis – trovas, quadras e xingamentos.



Numa época em que palavrões eram demonstração de mau comportamento –



puníveis com puxão de orelha e chinelada, sim senhor! –,



largar um



' vatomanoariticu '  resolvia a coisa.



 Aliás, pra xingamento a fruta-do-conde não



é muito prestativa. Mandar alguém ' tomar na nona '  soa tão somente como uma



sugestão de beber suco na casa da vó.



 Agora, pense na sonoridade de um



comentário sobre um colega reprovado no ginásio,



 tendo que levar o boletim



pra casa: ' Toooomô noariticu! ' .



Acho que a piazada de hoje, lá em Rio Negrinho ( ABAIXO ) , nem conhece o ariticum.



Não



é comercialmente atrativo. Mesmo nas antigas, ninguém precisava comprar,



pois como se tratava uma frutinha selvagem e farta, era só esperar o verão e



colher à vontade.



Creio que, procurando em locais onde a mata está



preservada, dá pra encontrar ainda. Se um dia eu tiver a felicidade de poder



retornar aos locais da infância, onde joguei bola, fiz cabana e tomei banho na



curva do rio, quero ver se encontro uns pezinhos de ariticum.



 Não os mesmos,



claro, pois não duram tanto, mas os descendentes daqueles que talvez eu



tenha plantado, cuspindo sementes



 no pastinho numa tarde de verão. "


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