terça-feira, 8 de setembro de 2015

Doces e Distantes Lembranças

Se existe algo que pode ser considerado o coração de uma cidade é seu MERCADO PÚBLICO , com o seu inconfundível e característico burburinho e ainda com os seus muitas vezes exóticos produtos . Quem passa por aquela construção em estilo enxaimel , entre a movimentadíssima rua Nove de Março e a pacata e pequena rua Engenheiro Niemeyer ,logo comprova que ali essa regra é confirmada , ao som de muito samba e pagode .......Mas espere aí : Rua Nove de Março ? Engenheiro Niemeyer ? Sim , foi isso mesmo que você acabou de ler : se dependesse da empresa que colonizou Joinville , a SOCIEDADE HAMBURGUESA , o mercado público teria sido justamente naquele local , onde atualmente estão tanto o MARCO ZERO DA CIDADE ( no local desde 1946 - ABAIXO )



 e A BIBLIOTECA PÚBLICA ( desde 1955 ) . Vale lembrar que uma extensa região , entre o atual monumento A BARCA  e aquele local , era lodosa e que justamente ali começava a terra firme e , portanto , teve início a colonização oficial de Joinville . Mas havia um porém : praticamente desde os primórdios de Joinville já havia um movimentado e intenso comércio  em uma pequena e lodosa enseada , que se estendia até certo trecho da atual rua Abdon Baptista . Era ali que os moradores brasileiros das redondezas vendiam seus produtos , principalmente açúcar , farinha e peixes , e foi ali também um dos primeiros locais em que eles tiveram contato que os imigrantes , os tais "galegos que falavam arrevezado " . Também por já existir um pequeno porto no local , foram instaladas em suas proximidades empresas que beneficiavam e exportavam a erva-mate vinda do planalto norte e logo ali também se concentrou a elite luso-brasileira da cidade e que daria as cartas , tanto na política quanto na economia de Joinville , até 1934 . Diante disso , o então prefeito PROCÓPIO GOMES DE OLIVEIRA ( 1859-1934 - ABAIXO  ) , ele mesmo um morador da região , não pensou duas vezes :



a antiga enseada foi aterrada em 1905 e no ano seguinte teve início a construção do futuro mercado público , que acabou sendo inaugurado em 1907 e que a princípio não foi levado muito a sério . Em relação ao local seria o mercado , ele não deixou de ter importância : foi lá que em seus primeiros anos o CORPO DE BOMBEIROS DE JOINVILLE ( ABAIXO ) , entidade criada em 13 de julho de 1892 , fez os seus exercícios .



 Mais tarde , provavelmente em 1897 , a Prefeitura de Joinville adquiriu o terreno de cerca de 6.700 metros quadrados e então pertencente a Sociedade Hamburguesa e incumbiu a SOCIEDADE DE EMBELEZAMENTO DE JOINVILLE , entidade surgida em 1896 e formada apenas por voluntários , de criar ali uma praça pública . E os voluntários capricharam no serviço : em maio de 1898 além de ajardinarem e cercarem o local , ainda abriram uma rua ( a atual rua COMANDANTE EUGÊNIO LEPPER , entre o hotel Colon e a praça Nereu Ramos ) e melhoram outra ( a atual rua São Francisco , uma rua lateral a Biblioteca Pública eque naquela ocasião já existia sem ter um nome ) . Não se tratava apenas de uma praça : era um verdadeiro jardim ( ABAIXO ) , com muitos jarivás , palmeiras , bambus , bancos e dois tanques repletos de peixes .



      Mais tarde , naquele local foi construído um coreto , onde várias bandas animavam a reduzida população do modesto centro da então pacata cidade ao som de polcas , marchas , valsas e outros ritmos . Curiosamente , ali também havia comércio : a partir de maio de 1916 começou a funcionar ali um quiosque de propriedade de um certo EMÍLIO ROSENBERG e anos depois surgiu o BAR EDEN , que durante certo foi um dos locais de encontro de Joinville . Por ocasião dos festejos dos 75 anos de Joinville no local foi erguido um obelisco e foi colocado um busto de bronze da princesa Dona Francisca ( ABAIXO ) , que permaneceu ali até a década de 70 e que foi , por  sinal , uma das primeiras obras de FRITZ ALT ( 1902-1968 ) após se mudar para Joinville .



 Outra curiosidade : a praça chegou a ser chamada pelo povo de HAMBURG PLATZ , ou Praça Hamburgo , mas prevaleceu a homenagem a um dos poderosos de plantão e o local ganhou o nome de JARDIM LAURO MUELLER , político e militar itajaiense que governou Santa Catarina em 5 breves ocasiões , entre 1889 e 1902 e que mais tarde seria ministro e senador  , Daquela belíssima praça ( ABAIXO ) que encantava a todos nas primeiras décadas do século 20 restam apenas relatos , depoimentos , as memórias de antigos moradores e velhas fotos de uma época cada vez mais remota.......



.Ao caminhar no local ( ABAIXO )  , hoje conhecido como a "praça da biblioteca " , a sensação chega  ser de tristeza : uma praça feia , em que a cinzenta calçada ganha do puco verde existente no local ; sujeira ; abandono ; descaso e , a partir de certa hora , uma reunião de indivíduos no mínimo suspeitos......



Caminhando mais adiante , pelas praças Nereu Ramos e da Bandeira , a situação é idêntica  , isso sem contar as inúmeras praças públicas existentes no periferia da cidade .......Fotos antigas de praças como Nereu Ramos e da Bandeira só aumentam a sensação de tristeza : o atual estado dessas praças , além de ser um exemplo de descaso e falta de respeito com a memória da cidade e a cultura , é também mais uma amostra da sucessão de administrações desastradas que têm enfeiado a cidade e atazanado a vida dos joinvilenses desde o fim da década da de 80 . De nada adianta uma cidade crescer a ritmos impressionantes se a sua população não usufruiu desse crescimento . E uma forma de usufruí-lo é ter livre acesso a cultura , incluindo eventos realizados em praças e locais públicos ; só que em Joinville apenas alguns poucos e esporádicos  eventos , como o MAJ SOUNDS ( realizado nos jardins do Museu de Arte ) e o Sábado na Estação ( ABAIXO ) acontecem em locais públicos .......Um dos videos do dia trata justamente deste pertinente tema . VALE A PENA CONFERIR !


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