terça-feira, 21 de julho de 2015

Ele Chega De Mansinho.....

Ela é nossa amiga e companheira e quando precisamos está sempre pronta a nos ajudar .......Hoje de manhã , consultando uma velha edição da ENCICLOPÉDIA UNIVERSAL , encontramos a seguinte definição para a palavra INVERNO : " A mais fria estação , que em nosso hemisfério , o Austral , vai de 21 de junho à 22 de setembro e , no Boreal , vai de 22 de dezembro à 21 de março . 2 - Tempo invernoso ; tempo frio e chuvoso . 3- Velhice ; anos de existência de uma pessoa idosa . " Detalhe : a data da publicação da enciclopédia é 1969.......Bom , já se desfez há muito tempo aquela imagem da pessoa idosa confinada em sua casa ou presa em um asilo , esperando a morte chegar e tendo nas visitas de seus filhos , netos e até bisnetos , um de seus poucos momentos diferentes e de alegria .....É comum vê-los dançando nos chamados 'bailes da melhor idade " , voltando a estudar , realizando atividades , reencontrando velhos amigos e jogando conversa fora e até mesmo namorando e se casando de novo ........Em relação ao INVERNO , infelizmente a descrição feita pela velha publicação de 1969 também vem se tornando algo de um passado remoto......Pessoas agasalhadas , frio intenso , geada , temperaturas baixíssimas , ventos frios e cortantes , nevoeiros , chuvas  finas e intensas ......não é o que temos visto nos últimos dias e sim  mais um outono com cara de primavera do que propriamente um inverno , sendo  mais uma das consequências da irresponsável e estúpida ação humana sobre a natureza . Mesmo assim o inverno ainda mantém aquela imagem de aconchego , conforto e elegância . Num misto de crônica com poesia , o escritor DONALD MALSCHITZKY traz uma definição bem especial e particular do que é ( ou era ? )  o inverno . CONFIRA :

"Não chego assim de repente, invadindo as peles ainda pouco cobertas e com cheiro de frutas colhidas, posto que era tempo de colhê-las. Deixo que se deleitem com o sumo, que chutem as folhas e as percebam em nuances de cor. 



Deixo que se acostumem com as nuances para que a passagem deslize pelos braços descobertos e as pernas expostas  até que alguém se abrace a si mesmo, atente para as peles em calafrios e mire  os bichos que já sabem que algo acontece, pois se aconchegam.



Aí me instalo de mansinho, com uma brisa leve e fria, um chuvisco daqueles que enganam bobos e inteligentes, e molham de dentro pra fora.

Viro assunto de quase todas as conversas e reclamações (mais as últimas do que as primeiras),  com pessoas a falar com a boca baixa, às vezes com vapor enevoando as palavras.

Há dias em que sou de sol e de azul, muito azul e muito sol, mas que não esquenta muito, não,

e mesmo assim as ruas recebem gente a caminhar por entre casacos 

e sorrisos,  e as crianças, ao sair  da escola,  fazem mais algazarra e correm mais, coloridos gorros, cachecóis e jaquetas meio inúteis ao sol de meio dia, a agitar-se  ao som dos gritos. Servem à coreografia de ser criança.

Em noites adormecidas,

em que a brisa descansa e as estrelas pendem costuradas ao céu, viro escultor de cristais em ramos secos e folhas de orvalho. De cristais, também faço espelhos em poças d’água. Efêmeros espelhos para efêmeras belezas. Penduro pingentes em cercas e pinto campos e morros da brancura da inocência, até que o sol ressuscite o verde que ficou coberto.

Meu tempo é o tempo do encontro, não no descompromisso alegre do calor, na maturidade solene do tempo dos frutos e das quedas ou nos campos despertos, espalhados de arco-íris e pólen nos ares, mas no aconchego da dança da chama e dos agasalhos  tirados dos exílios dos armários.


Meu tempo é o tempo é do sono da parreira, a urdir vinhos de encontro. É o tempo da semeadura dos pinheiros, para que seus frutos virem alimento e festa . 

Meu tempo traz as tainhas para pratear as praias e dar sorrisos aos companheiros do mar.

É um tempo curto: em setembro, preciso ir-me, que vem minha irmã mais nova, e vem florida

e os pássaros farão ninhos e farão amor.  E eu descansarei por ter velado o descanso da terra . "

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