terça-feira, 14 de abril de 2015

Há Sempre Um Barco

A palavra que melhor pode definir aquele grupo de 461 pioneiros imigrantes açorianos que vieram para Santa Catarina é ESPERANÇA . Ao chegar aqui ela foi logo trocada por uma palavra bem amarga : DESILUSÃO . Nenhuma das promessas feitas à eles , como distribuição de terras , ferramentas e animais acabou sendo cumprida e , como se não bastasse , ainda acabaram sendo recrutados á força paras as constantes guerras entre Portugal e Espanha . Parte dessas esperançosas e desiludidas pessoas acabou se fixando em uma região muito próxima da então vila de Desterro , hoje Florianópolis ; a paradisíaca baía de SÃO MIGUEL . Na verdade , lá já havia uma pequena povoação , elevada à CAPELA ( espécie de sub-distrito ) por lei de 9 de agosto de 1747  e anos mias tarde lá foi instalada uma armação de baleias , a ARMAÇÃO DA PIEDADE . Durante o breve período em que Desterro foi invadida e ocupada por espanhóis  , entre fevereiro de 1777 e julho de 1778 , o pequeno povoado chegou a ser a capital de Santa Catarina e seu progresso foi tão rápido  que acabou emancipando-se da então Desterro por força de lei datada de 1 de março de 1833 , mas logo viria a decadência ........em 1894 a histórica vila de São Miguel perdeu a condição de sede de município para o então povoado de Biguaçú e a partir dali passou a ser apenas um esquecido e modorrento distrito daquele município . Só conquistou sua emancipação política em 20 de dezembro de 1963 , dessa vez com o nome de Ganchos e em 1967 trocou seu nome para GOVERNADOR CELSO RAMOS . Atualmente com cerca de 14.000 habitantes , a cidade tem na pesca e no turismo as suas grandes fontes de renda e atrações é que não faltam : casas antigas , 30 belíssimas praias , cultura açoriana fortemente preservada ( incluindo , infelizmente , a condenável e estúpida tradição da FARRA DO BOI ) e uma visão privilegiada da ilha de Florianópolis . Vale lembrar que a ilha de ANHATOMIRIM , onde está a histórica fortaleza de SANTA CRUZ DE ANHATOMIRIM ( construída entre 1739 e 1744 ) pertence ao município . Um lugar como esse é muito inspirador ......que o diga o escritor DONALD MALSCHITZKY  , autor da crônica-poesia-filosofia de hoje , inspirada no histórico e paradisíaco lugar . CONFIRA ;
"Poderia ser apenas mais uma quinta-feira , como todas quando Florianópolis é o destino de trabalho , e espio a paisagem naquela curva à esquerda , em São Miguel ( FOTO ABAIXO )

onde sempre há uma bateira ancorada e ao longe se vê parte da ilha e seus contornos

 que sobem ao céu . Só que é outono , só que o mar , liso e acariciante , está tão incrivelmente azul e tanto reflete que ficava impossível não concordar com Fernando Pessoa , ( FOTO ABAIXO )

 e algo sussurra : ' Mas foi nele que inspirou o céu '.
    Há dias , e são a maioria , que o vento levanta aquelas ondas curtas de altura e de distância entre elas na água que separa ou une ilha e continente

 e o fundo lodoso se mistura à superfície e aparece outra beleza de contraste e nostalgia . Não que seja triste - cinza não é triste , é apenas cinza - , mas há em nós a necessidade de segurança trazida pelo que e claro , decifrável aos olhos e sentimentos , talvez para compensar os labirintos mais tenebrosos de nossas mentes . 

    Em dias assim , as cores da bateira ancorada , embora destoem do entorno , pouco aparecem .

 Falta-lhes o brilho do reflexo . Na quinta-feira , no entanto , há um vermelho-pescador e um amarelo-navegar-é-preciso flutuando sobre o anil . Visto de cima , da entrada , daria bela aquarela , uma foto tocante de Lair Bernardoni ( FOTO ABAIXO )

( onde anda você ? ) , um anúncio de viagem inesquecível . Mirando da margem , no nível do mar , é nave errante buscando contornos no horizonte .
    Velho CD de Renato Teixeira ( FOTO ABAIXO )

 embala o caminho e adia a escolha de sempre : ' Pela Via Expressa ou pelo Estreito ' . Pura coincidência : ' O velho barco toda vez que vê o mar , fica confuso , com vontade de parar ' . O trânsito no Estreito , ( FOTO ABAIXO )

de tão tranquilo , parece desenhado para não estragar a paisagem nem as lembranças . De cima da ponte com pouco movimento , extensões de azul , de novo , convidam o pensamento ao voo . 
    Há um velho barco dentro de nós ,

 um barco de sentimentos confusos , de medos e desejos , que prefere navegar ,mas não sabe se prefere fixar-se à âncora ou enfrentar as ondas , se espera pelo vento ou vai com ele , mas , enfim , navega , ' mesmo que o casco seja corroído ' , como continua a canção , porque há o chamado do horizonte , e segue até transmutar-se em ponto , em azul . Libertar-se . "

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