segunda-feira, 20 de abril de 2015

Azul Infinito

Os mais remotos registros de sepultamentos de mortos datam de 60.000 anos atrás . Isso também é um dos mais indícios de algo conhecido como RELIGIÃO . Muito mais do que um tipo de explicação para aquilo que a Ciência ainda não consegue explicar ela serve de consolo para algo que além de amargo é a única certeza que temos : a de que iremos morrer . É praticamente impossível dizer quantas religiões existem atualmente no mundo , mas elas são divididas em 48 grandes grupos . Tão vasta quanto a quantidade de religiões é a maneira como cada uma delas encara a MORTE , a seguir 3 exemplos : no ISLAMISMO  quando alguém está prestes a morrer reza-se o SHAHÃDAH , uma oração contra o demônio e plea afirmação da existência de um deus , ALÁ , essas são as últimas palavras que a pessoa deve ouvir . Morta , seu corpo é lavado  de 3 a 5 vezes por parentes e amigos de seu sexo , começando pelo direito de seu corpo ( acredita-se que com isso sua alma é purificada ) ; todos os seus orifícios são tampados com algodão e seu corpo é coberto por um sudário branco perfumado com cânfora  . No JUDAÍSMO as janelas do local onde ocorreu o óbito são abertas ; todos os adornos do corpo do falecido ou falecida são retirados , incluindo até perucas ( ! ) , pois acredita-se que a alma não deve encontrar o criador portando objetos mundanos . O caixão deve ser de madeira e providenciado imediatamente , sendo coberto por um ano preto estampando a CRUZ DE DAVI ( símbolo não apenas do Judaísmo como também do próprio povo judeu , presente na bandeira de Israel ) e todos os caixões devem ser iguais , pois a morte iguala a todos . Já no HINDUÍSMO , religião em que se acredita na existência de diversas reencarnações até a alma se torne perfeita , uma pessoa quando está para morrer é deitada no chão , a céu aberto e coma cabeça virado para o sul . Morta , seu corpo é lavado e untado com óleo e pasta de sândalo  , sendo vestido com boas roupas como se estivesse indo a uma festa . As mulheres arrumam os cabelos , os homens barbeiam-se e o corpo é coberto por uma mortalha de seda , deixando a descoberto apenas o topo do crânio . Você já deve ter pensado : " Mas este assunto é muito deprimente , baixo astral ! " Mas um verdadeiro artista das palavras pode tornar este assunto uma verdadeira aula de sabedoria e filosofia .......É o que você verá na crônica de hoje , de autoria do escritor e poeta SANDRO JAMIR ERZINGER  . CONFIRA :
"Seis e quarenta da manhã, uma fina e monótona chuva cai sobre a cidade, trazendo o prenúncio de um fim de semana triste e úmido.

No quarto de hospital, um livro de Friedrich W. Nietzsche cai das mãos de Alexander,

 o impacto surdo do volume no chão, é acompanhado do contínuo sinal sonoro no aparelho de monitoração cardíaca. Sua esposa desperta num repente, mas antes de sair em desabalada, lembra das palavras de Alexander - por favor, não tentem ressuscitação na próxima vez. Com os olhos lacrimosos caminha em direção à enfermaria, para comunicar o ocorrido.

minutos antes de se entregar ao sono definitivo, imagens e recordações ressurgem em sua mente, trazendo breves momentos de tristeza e alegria: o nascimento de seu filho,

 a comemoração do primeiro ano de casamento, o falecimento de seu irmão caçula, entre outros episódios que culminam sua mente, em forma de projeções sucessivas.
 Não nascemos com nossos destinos traçados, tão pouco com data e hora predestinados para morrer. Somos responsáveis por nossos atos, possuímos em mãos o livre arbítrio. somos livres para pensar e fazer tudo o quanto desejamos,

 sem interferência divina ou de qualquer outra natureza, e por consequência, nossas ações no presente construirão parte de nosso futuro, e acima de tudo, devemos nos considerar seres efêmeros, constituídos de uma matéria fraca ;

 esta filosofia era sua bíblia.
 Após a benção final do padre, sua esposa declarou a vontade de ler uma pequena carta escrita por Alexander - somos arquétipos de sentimentos, ignorando ou fingindo ignorar as perdas de entes queridos, arrancados de nossos meios, durante o curto espaço de tempo vivido neste magnífico e azul corpo celeste. O mais impressionante em nós cristãos, é quase sempre permitirmos, que um livro escrito por um bocado de homens,

 comande parte de nossas vidas, sem realmente questionar a lógica. Para Nietzsche: Deus está morto, para Shakespeare: a morte é um estranho mundo de onde viajante algum jamais voltou; sentirei saudades . 

Mas faltava realizar os dois últimos pedidos que Alexander pedira com grande veemência para sua esposa, sempre quando tocavam no assunto relacionado à morte. Concluído as despedidas, seu corpo foi cremado e alojado em uma urna.
A morte de Alexander já era esperada, conforme prognósticos médicos, mas contudo em parte da família, ainda reinava a esperança, antes daquele fatídico dia. Principalmente para seu filho,

 que sempre se espelhara em Alexander, por tratar-se de um homem indômito, capaz de realizar todos os desejos idealizados.
A vontade de perenizar o tempo, tanto nos momento de amor, alegria  e separação, é algo comum para todos nós, jamais conseguiremos nos tornar invulneráveis à estes momentos. Chegava a hora de atender ao segundo e último pedido, sua esposa apertando a urna contra o peito, soluçava em meio à lágrimas e exclamações ininteligíveis, denotando a dor e amparada pelo filho, embarcaram no carro rumo à baía da Babitonga.

  O barco adornado com coroas e flores, flutuava suave e tranquilo. Após embarcarem, partiram para a ilha de Murta.

 Ao chegarem no destino, a embarcação rumou para o norte da ilha, parando a´poucas centenas de metros, ela depositou a urna na água e falou: realmente meu querido, somos apenas passageiros, neste magnífico e azul corpo celeste. Em seguida foram atiradas as coroas de flores, tudo transcorreu em silêncio, ouvindo-se apenas o impacto dos adornos florais na água. Ao tocar o fundo, passou à ser velada pelo imenso mar."

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