quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Com Brisa E Um Vasto Quintal

Dificilmente alguém algum dia não teve um animal de estimação , mesmo aqueles que não têm muito afeição por animais . E é quase certo que esse animal de estimação tenha sido um CÃO . Amigo , fiel e companheiro , o cão tenha o nome formal e científico de CANIS LUPUS FAMILIARES . A relação entre homens e cães é única no vasto reino animal e embora eles sejam nossos grandes amigos não se sabe como surgiram : existe a hipótese de que o cão e o seu parente , o LOBO , teriam se separado há cerca de 135.000 anos e a partir dali cada um teve uma evolução distinta ; outra hipótese é a de que os cães descendem de uma espécie canídea remota e extinta ; outros defendem que o cão descende de um lobo acinzentado e por fim outros defendem a hipótese de que eles teriam surgido do cruzamento de lobos com chacais . Os homens pré-históricos teriam percebido que certos lobos se aproximavam mais de seus acampamentos do que outros e esses mesmos lobos acabavam servindo como um alerta da presença de animais ferozes nas proximidades e de outros lobos mais ferozes , com o tempo esses lobos , digamos mais mansos passaram a ser domesticados ( o que teria acontecido há cerca de 30.000 anos ) ou seus filhotes eram raptados e domesticados . Várias civilizações antigas , várias delas já desaparecidas , registraram a presença de cães : egípcios , assírios , gregos , macedônios , romanos , gauleses e até mesmo algumas nações indígenas americanas , antes da chegada dos conquistadores europeus . Civilizações como os egípcios e os gregos tinham verdadeira adoração pelos cães e quase os consideravam deuses ou enviados desses : os egípcios os consideravam conhecedores de outro mundo e sua figura era associada a uma divindade conhecida como ANÚBIS , já os templos religiosos gregos eram cheios de cães e sua figura era associada à cura , sendo que as feridas dos doentes eram lambidas por cães . Já outras civilizações estavam longe de ser benevolentes com os cães : os gauleses , antepassados dos atuais franceses utilizavam em seus sacrifícios em honra a seus deuses  e os romanos realizavam brigas de cães , que aconteciam no famoso COLISEU da cidade de Roma ( durante dias os cães eram confinados e não eram alimentados para que se tornassem mais agressivos ) . No período de trevas e ignorância , que foram duas das características da IDADE MÉDIA ( período compreendido entre os anos 476 e 1453 ) a figura do cão passou a ser associada ao demônio e a matança intensa tanto de cães quanto de gatos , lobos e raposas quase que provocou a extinção dessas espécies na Europa . Já ao fim da Idade Média , no século 15 , os cães passaram a ser uma espécie de objeto de luxo da nobreza  , também na mesma época começou a se criar  a imagem do cão como um companheiro paras as crianças .
      Ao longo dos séculos seguintes surgiram novas raças de cães , algumas delas , como os dobermann e os pastores alemães ,com fins militares ( os antigos macedônios chegaram utilizar cães em seu exército e os conquistadores  espanhóis também os utilizaram na conquista do continente americano ) . Atualmente existem mais de 400 raças caninas e que são divididas em 11 grupos , de acordo com alguma aptidão especial daquela raça como companheirismo , caça , guarda e luxo  . Uma fêmea leva 60 dias para fazer a gestação de seus filhotes e outros 45 dias os amamentando , tanto o número de filhotes por ninhada quanto a expectativa de vida dependem muito da raça do cão . Assim como os humanos , os cães exprimem sentem emoções como medo , angústia e surpresa e tristeza ; sentem doenças como resfriados e estresse e a velhice , com problemas na visão , audição e mudança de humor . Têm uma visão noturna melhor que a dos humanos , assim como os sentidos do olfato e da audição , que são muito superiores às dos humanos . Os cães são utilizados nas mais diversas funções e estão presentes em todas as formas de arte , sendo muitas vezes os protagonistas (os primeiros desenhos rupestres representando cães datam de cerca de 4.500 anos antes de Cristo ) . Bom , após você saber um pouco mais a respeito do dito "melhor amigo do homem " vem  crônica de hoje , com jeito de fábula ,  de autoria do escritor DONALD MALSCHITZKY  e  que narra a saga  de um vira-lata com jeito de cão aristocrata . É , com o perdão do trocadilho , uma história boa pra cachorro ! CONFIRA :
"Encontrava-o diariamente em frente a uma casa ,

 quase nunca na calçada , às vezes deitado no paralelepípedo , em outras , debaixo do carro . Achava que a casa era o lar dele , mas estava enganado . Deduzi-o quando , por semanas , vi-o descansando ao abrigo do sol forte embaixo de outro carro , sempre estacionada a mais de 300 metros de onde supunha ser sua casa .

  Passeia observá-lo . Sempre só , não se agrupa nem em época de acasalamento , parece aquele esperto que  fica longe do ridículo dos machos para depois atacar com seu charme . 

Se consegue , não sei , mas age como um cão acima dessas condutas .
  É pequeno , peludo e não vive exatamente limpo ,

 mas tem um andar entre digno e despreocupado . Embora aparecesse pouco em nossa rua , já pensei em dar-lhe banho , mas vai saber como reagirá . Dificilmente rosna , não corre e nunca o vi latir . Se quer atravessar a rua , atravessa com as mesmas passadas curtas e seguras de sempre , certo de que a rua é dele e tudo o mais veio depois , portanto , deve respeitá-lo .

  Quem o alimenta ? Não sei , mas parece que nunca está com fome .Nos arredores , há um bar bastante frequentado nos finais de semana ;

 no dia de costela não faltam cachorros dispostos à xingações , desde que recebam um naco de qualquer coisa para parar a salivação . 

Mesmo estando por perto , não aparece por lá . Acho que torce o focinho ao ver as humilhações que sofrem os de sua espécie , e não está disposto a passar por isso . 
   Por lá andam dois ou três cães que vivem na rua ,

 embora tenham donos , mas acontece de alguém chamá-los . Um deles , especialmente , é um covarde perigoso ; mais sutil do que muitas pessoas , apenas olha quando alguém passa , depois começa a traçar um arco , depois fica atrás do passante , aí ataca . Basta virar e olhá-lo para que baixe a cabeça e se torne o mais humilde dos cachorros .

 Quando nosso personagem está por perto , mal se dá o trabalho de levantar a cabeça para ver o que acontece . Na certa já conhece o enredo inteiro . 
   Como podemos ver , é um cachorro de rua , mas com muito orgulho e independência . Agora já não é mais um sem-teto : ganhou uma casinha bem construída , com potes para a comida , tudo à sua disposição , ao lado do terreno de uma casa , mas sem muros nem cercas , nem correntes . Da varanda de seu novo lar , pode curtir a brisa e mirar o vasto quintal que tem para si : com ruas , vielas , bosques , pastos , muitas e muitas escolhas ; um quintal do tamanho do mundo . "

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