quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Bamba

Quem está chegando em São Francisco do Sul  logo encontra , à alguns metros da antiga e acanhada rodoviária da cidade , um estádio de futebol . Trata-se do estádio OTTO SELINKE , inaugurado em setembro de 1933 , e pertencente ao CLUBE ATLÉTICO SÃO FRANCISCO . Surgido de uma fusão entre TEODORO e BATACLAN  , em 1931 , o clube vive de glórias do passado : foi várias vezes campeão local , vice-campeão estadual em 1938 e bicampeão da cidade de Joinville em 1949-1950 . próximo dali está o centro histórico e à caminho da antiga cadeia da cidade , desde 1985 um museu , está um imponente casarão amarelo , propriedade da família GORRESEN . O casarão ficou pronto em 1873 e pertenceu ao médico e comerciante norueguês MARCUS FABER GORRESEN  ( 1826-1878 ) . Ele foi um dos fundadores da colônia Dona Francisca , hoje Joinville , e viu na antiga e portuária cidade mais possibilidades do que na recém fundada e precária colônia . Em frente à construção está uma pequena praça , com uma refrescante sombra e velhos coqueiros , com uma das melhores vistas da deslumbrante baía da Babitonga . Ainda no centro histórico , junto à seculares e belas construções , está o hotel ZIBAMBA , um dos melhores da histórica cidade e que com o tempo tornou tão importante no centro histórico quanto os velhos prédios . À pouca distância dali  está a bela , tranquila e pacata PRAIA DE PAULAS , em contraste com o agito e barulho de outras prias locais como ENSEADA e UBATUBA . Não , o que você acabou de ler não é um pequeno roteiro turístico da vizinha cidade  mas sim pequenas descrições de cenários onde se desnrolou a história de hoje , contada pelo escritor "são chiquense "  HILTON GORRESEN . Ele não apenas lembra um pouco de sua infância e adolescência  como também de um velho e querido amigo . CONFIRA :

"O apelido , que levou durante toda a vida  , foi dado no tempo de menino . Invenção do primo Rogerinho ( se eu estiver enganado , que ele corrija ) , por ser bom de bola nas peladas no campo dos coqueiros .



 Morávamos perto , na mesma rua , e os pais eram compadres . Uma pequena foto desbotada nos mostra com os pais na praia dos Paulas , ( FOTO ABAIXO )



 num tempo não alcançado pela memória . Foi um dos poucos de minha geração a ficar em São Chico , sempre ligado aos esportes , foi presidente do Clube Atlético , do qual seu pai , Vadinho Zattar , havia sido jogador nos primeiros tempos . ( ABAIXO , FOTO DO ESTÁDIO OTTO SELINKE )



 Era de família rica pelos padrões de São Chico : tinham carro e telefone pendurado na parede ; eu só tinha a tradição do sobrenome . Sua mãe , dona Maria Tereza , era ( é ) uma grande dama ; o pai , seu Vadinho , um remanescente do tempo da piteira , que lhe dava um ar refinado . Seus aniversários , com a supervisão de dona Maria Tereza , nos deliciavam com brigadeiros ( coisa rara na época ) , balas enroladas em papel com franjas e o sempre presente guaraná caçula .



 Algumas famílias de posse mantinham um garoto mais velho para ajudar em casa , fazer compras , dar recados , etc.....A família Zattar tinha um desses , que também funcionava como segurança do ' Bamba ' .



 Era o organizador de nossas brincadeiras de mocinho e bandido , comuns naquela época de filmes de faroeste . E , naturalmente , o Bamba era sempre escalado para ser o mocinho . Talvez , lá onde está agora , ele ria dessas lembranças  e diga que é mais uma invenção de cronista .

 Aproveitando o velho imóvel de família , montou o hotel cuja fachada acompanha a ladeira em direção ao mar .



 Hotel que se tornou uma referência no centro histórico de São Chico , assim como o Mercado Municipal , o bar do Bolacha , os clubes Cruzeiro e 24 .O nome Zibamba veio da combinação do nome de Zizico , sócio no começo da empreitada , e do seu próprio apelido .

 Teve uma grande tristeza : a morte de seu filho em acidente trágico .

 Miha saudação não vai para o Oswaldo Zattar Filho ,empresário , mas para o Bamba de minha juventude . O Bamba do s jogos de futebol , dos jogos de peca ao lado da casa de pedra de minha avó , dos cigarros fumados ás escondidas na ponta do Coqueiro .



 A última e uma das poucas vezes em que o vi foi no encontro anual de amigos da década de 1960, em setembro , realizado em seu próprio restaurante .Já me pareceu cansado e abatido . Hoje , sábado , leio a notícia de sua morte .

 Todo amigo que se vai é um elo que perdemos com a vida , nos aproximando mais de nosso destino fatal . "


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