terça-feira, 16 de setembro de 2014

As Pedras Que Amparam

O que seria da cultura popular e da mitologia se não existisse figuras como duendes , valquírias , saci-pererês ,  fadas , anjos , deuses e demônios ? O que seria das crianças se elas , em sua pureza infantil , não acreditassem em bichos e seres encantados e papais noéis ? O que seria da arte de desenhar  se não existissem super heróis invencíveis ?  Sem criatividade , imaginação e fantasia o mundo certamente seria mais cinzento e triste do que já é e elas são alguns dos ingredientes que adoçam nossa vida . Imagine se AS PEDRAS de repente ganhassem vida e falassem ? O escritor GIOVANNI LEMOS pôs sua imaginação para funcionar e nos presenteia com a bela crônica a seguir . CONFIRA :

"Como seria se elas pudessem exprimir suas sensações diante do que passam e suportam ? Acredito que trariam à tona muitas novidades , curiosidades e surpresas . Aos trancos e solavancos dormem e acordam e tudo começa com a mesma rotina  corriqueira do deslocar das pessoas que se ajustam aos horários tentando cumprirem com suas obrigações cotidianas .



 No silêncio da noite elas se acomodam e relaxam pelo dia fatigante . Ao contemplarem o céu estrelado conversam entre si - num sutil murmurar - e falam de suas sensações .



 Cada uma narra um pouco dos passos , dos  tropeços , dos pesos e medidas  que tiveram que experimentar e que continuam aguentando no vai e vem da vida em seu transcurso natural . E a culpa sempre recai sobre elas : que estão fora do lugar , mal colocadas e encaixadas , propiciando que as pessoas tropecem , quebrem o salto , torçam o pé e arrebentem a ponta dos dedões em violentas topadas . Eterna condenação .



 Cada rua , ladeira , beco ou praça onde elas se encontram existe uma boa ou triste história a ser contada . Mesmo dormindo elas registram toda a movimentação do frenético deslocar dos poucos meios de transporte e dos viandantes que ainda necessariamente circulam  ou teimam em perambular vagando pelas ruas sem destino .



 No contínuo lusco fusco dos dias , trabalham naturalmente , cumprindo sua função . Muitas delas mostram seus desgastes naturais - como um registro do tempo em que ali estão - lisas , carcomidas , limpas , sujas , furadas ou lascadas . é assim que elas sustentam todo tipo de pressão a que estão sujeitas .



 Em exposição ao sol ardem e exalam odores diversos  , como uma resposta aos hábitos e costumes dos racionais  que extrapolam e dos irracionais que naturalmente se manifestam e se acomodam  .

 Agraciadas pelas chuvas , refrescam-se



e tornam a serem servis  e discretas como sempre , sem revelarem seus encantos e desencantos do dia a dia . Servem sem reclamar .

 Quantas histórias poderiam descrever sem denunciar seus personagens . São testemunhas naturais da rica produção social dos dias que teimam em se repetir impregnando os espaços com amores e desamores , frutos da evolução dos seres . Suportando as críticas , elas trabalham para melhor ampararem os que desfilam sem cessar . Seja qual for o meio que usamos para nos deslocarmos , deixaremos de alguma forma  , registradas nossas marcas . ( ABAIXO , FOTO DE PINTURAS RUPESTRES )



 Quantas o passado nos legou sobre elas e quantas deixaremos incrustadas . Sejamos leves e sutis .

 São minerais com vida latente a um dia despertar . "

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