segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sem se machucar

IMORTALIDADE E JUVENTUDE ETERNA......são dois sonhos impossíveis que a humanidade tem há milênios.Mas será que uma vida eterna e sem sofrimentos seria algo bom? Uma dessas utopiais está presente hoje em bela crônica escrita pelo multi talentoso JURA ARRUDA.CONFIRA: "Era como ser imortal.Nada,absolutamente nada,podia fazer-lhe mal ou causar-lhe dano.Voar foi o primeiro desejo.Subiu no alto de um prédio e viu a cidade em sua completa extensão. Viu a serra ao longe e,ao longe também,minúsculos automóveis e pessoas.Abriu os braços e soltou o corpo.Não sem antes vacilar.Toda certeza,antes da morte vacila.Durou segundos,o corpo já estava inclinando e já não havia mais volta.'Nada,absolutamente nada,podia lhe fazer mal ou causar dano',pensou. Início da queda,tentou planar,mas não era hábil como os pássaros,nem eficiente com um planador.O chão aproximava-se e ele teve todos os pensamentos possíveis. Os quadrados das janelas passavam como slides de uma película de cinema. Um filme também passava por sua cabeça:o de sua vida.Os segundos finais lentos e ele pôde degustar cada um dos momentos mais importantes que viveu.Restava saber se,no final,chegaria ao chão com a sensação de que viver valeu a pena ou com o arrependimento de ter saltado. O impacto no chão faria qualquer um espatifar-se,mas não ele.Bateu o ombro e só doeu. Levantou-se,olhou para cima e mediu a altura.Fora um grande salto:Não voou como previu ,mas sentira todas as vertigens,todos os medos e toda liberdade.Era mais adrenalina naquele salto do que produzira em toda a sua vida.Andou feliz entre a multidão. Era muito bom viver essa experiência e sobreviver para contar .Teve ímpeto de correr ,tamanha a alegria e correu.Começou com passos curtos,num trote.Quando viu o trânsito nas calçadas diminuir ,aumentou a passada e era tão veloz que suas passadas ficaram ainda mais largas e ele não corria,saltava e flutuava no ar,alcançando o litoral.Só parou diante do mar. Alguém lhe ofereceu uma água de côco. Ele agradeceu o sorriso e bebeu de um só fôlego.As ondas quebravam fortes na orla ,respingando na calçada e sobre ele.Sorriu mais uma vez.Arremessou o côco vazio para alguém ,que apanhou a fruta e sorriu para ele. A água do mar espargia nele um novo desejo:conhecer o fundo mar. Era sonho antigo,descobrir no fundo do mar os animais mais estranhos que inspiravam as mais estranhas criaturas do cinema. A chuva entrava pela janela,ele levantou-se e fechou-a.Deitou novamente. Relembrou as experiências dos últimos minutos,o salto do edifício,os saltos em direção ao mar e tudo o que era possível viver nos sonhos sem se machucar.Respeirou fundo e fechou os olhos. Queria dormir de novo para continuar sonhando que era imortal."(ABAIXO,GRAVURA QUE REPRESENTAA IMORTALIDADE)

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