terça-feira, 26 de novembro de 2013

Dos Açores para Joinville

Se existe uma marca registrada dos açorianos(FOTO ABAIXO) é a sua fala "cantada". Eles também trouxeram inúmeras manifestações culturais como o boi-de mamão,pão-por-deus,terno de reis;criaram uma embrionária indústria artesanal com as renda de bilros,feitas pelas mulheres, e engenhos de farinha de mandioca e cana-de-açúcar,que produziam açúcar,melado e cachaça;ajudaram a ocupar o sul do Brasil e deixaram uma numerosa descendência na região litorânea tanto de Santa Catarina quanto do Rio Grande do Sul.Entre esses descendentes ,no século 19,estava um modesto casal de lavradores,que vivia na pequena freguesia(equivalente hoje a um distrito)de Paraty,hoje Araquari,na época pertencente a São Francisco do Sul.Em 1859 nascia um dos filhos do casal,seu nome?PROCÓPIO GOMES DE OILIVEIRA.(FOTO ABAIXO) Atraída pelo crescente desenvolvimento de Joinville,impulsionado pelo beneficiamento e comercialização da erva-mate,(ABAIXO,PÉ DE ERVA-MATE) a família mudou-se para a então recém criada colônia Dona Francisca.O menino Procópio fez seus primeiros estudos na escola do padre CARLOS BOERGSHAUSEN,o primeiro padre da história de Joinville.(FOTO ABAIXO) Ainda adolescente mudou-se para o Rio de Janeiro,onde trabalhou na Casa Comercial Souto Maior.A princípio trabalhou com entrega de mercadorias mas com o tempo conquistou a confiança do dono da loja e passou a tomar conta dela. O trabalho do jovem comerciário chamou a atenção do português ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO,que o chamou de volta a Joinville.Juntos criaram uma pequena empresa ervateira e pouco tempo depois,em 1891,Procópio ajudou a criar aquela que durante certo tempo foi uma das maiores empresas do estado:A COMPANHIA INDUSTRIAL CATARINENSE,que não apenas cultivava,beneficiava e comercializava erva-mate como também funcionava como uma instituição bancária.(ABAIXO,FOTO DO PORTO DE JOINVILLE EM 1915,A SEDE DA EMPRESA FUNCIONAVA EM SUAS PROXIMIDADES) Em 1906,depois da dissolução da empresa, Procópio criou sua própria empresa,A PROCÓPIO GOMES E COMPANHIA,que mais tarde seria adquirida pela empresa JORDAN,GERCKE E COMPANHIA(empresa que deu origem a extinta COMPANHIA JORDAN DE VEÍCULOS).Procópio Gomes também era proprietário da fazenda BANANAL,que deu origem ao município de Guaramirim(até 1949 Guaramirim foi distrito de Joinville e durante muito tempo chamou-se Bananal-ABAIXO,VISTA AÉREA DE GUARAMIRIM) ;de terras no Cubatão,onde hoje se encontra o aeroporto de Joinville;(FOTO ABAIXO) de uma fazenda às margens da antiga estrada Dona Francisca(atual SC-280.A fazenda empregava mão-de-obra escrava);de uma fazenda com criação de laranjas no atual bairro Itinga;foi sócio e diretor da EMPRESA FORÇA E LUZ DE JOINVILLE,criada em 1909 e a primeira a explorar o serviço de abastecimento de luz elétrica em Joinville e em uma época que raras cidades brasileiras tinham acesso a luz elétrica.(ABAIXO,FOTOS DA ANTIGA USINA DA EMPRESA NA REGIÃO DO RIO PIRAÍ) Ele ainda foi presidente da poderosa ACIJ(Associação Comercial e Industrial de Joinville)entre 1918 e 1923. Monarquista e dono de escravos,recebeu do governo o título de CORONEL DA GUARDA NACIONAL(organização militar paralela ao Exército,que existiu entre 1831 e 1918,e cujo comando era exercido pelos chefes políticos regionais-FOTO ABAIXO). Em 1903 tornou-se prefeito,resultado de um consenso entre os chefes políticos da cidade,mas em 1910 derrotou nas urnas OTTO BOEHM,dono do KOLONIE ZEITUNG,O principal jornal de Joinville à época.Suas duas gestões como prefeito(1903-1907 e 1911-1915)foram marcadas por várias realizações:melhoria do abastecimento de água em Joinville,inauguração da estação ferroviária,(FOTO ABAIXO) do Hospital da Caridade(hoje São José-ABAIXO FOTO DO SETOR ANTIGO DO HOSPITAL) e do novo cais do porto da cidade(todos em 1906-ABAIXO,FOTO DO PORTO) ,construção de uma praça em uma região antes lodosa próxima ao porto e ao lado desta a mais polêmica de suas realizações:O MERCADO PÚBLICO.Inaugurado em 1907 com estilo arquitetônico português,o mercado gerou críticas não só entre seus adversários políticos como em boa parte da população,que tinha o costume de adquirir os gêneros alimentícios diretamente aos pequenos agricultores.A crescente movimentação de embarcações pelo rio Cachoeira(muitas trazendo gêneros alimentícios )e o desenvolvimento da cidade tornavam necessária a construção de um centro abastecedor de gêneros alimentícios e após muita polêmica foi escolhido o local onde hoje está o mercado,apoós a apresentação de um abaixo-assinado com 237 assinaturas a favor daquele local. Procópio Gomes não foi importante apenas na política e na economia......em 1914 ele doou o terreno onde atualmente encontra-se o SENAI,no bairro Bucarein,(FOTO ABAIXO) para que fosse construído o primeiro estádio do AMÉRICA(ABAIXO,FOTO DA PRIMEIRA EQUIPE DO AMÉRICA EM 1915,BATIDA NO LOCAL DO PRIMEIRO ESTÁDIO) e que disputou seus jogos naquele local até 1944.Em 1913 mudou-se para sua nova casa,que tinha o nome de VILA MARIA ,em homenagem a sua esposa.A residência( ABAIXO,FOTOS DA CASA E DE PROCÓPIO E ESPOSA) não apenas ficava próxima do porto e dos armazéns de erva-mate como também localizava-se em um local onde se concentrava a elite de origem portuguesa da cidade(o historiador ADOLFO BERNARDO SCHNEIDER certa vez recordou-se ,em seu livro de memórias ,de ter presenciado apresentações de boi-de-mamão na região-ABAIXO,FOTO DA REGIÃO PRÓXIMA AO PORTO,DE 1926). Em 1934 Procópio Gomes faleceu,aos 75 anos,e pouco depois a antiga Rua do Mercado recebeu seu nome.O jazigo da família GOMES DE OLIVEIRA encontra-se bem no lato do cemitério municipal de Joinville,(NO CANTO DIREITO DA FOTO ABAIXO) próximo de túmulos de pessoas que foram igualmente importantes na história da cidade como o padre CARLOS BOERGSHAUSEN,o médico NORBERTO BACHMANN e o ex-prefeito PEDRO IVO CAMPOS.A trajetória de Procópio Gomes,que acabamos de descrever,mostra um pouco do poderio da elite de origem portuguesa,ou no linguajar dos alemães e descendentes da Joinville do princípio do século 20,"CABOCLA".Foram tão importantes quanto os alemães na transformação de uma pequena e isolada comunidade estrangeira,projetada para ser um centro agrícola,em dos maiores pólos industrias do Brasil.é também um pouco da saga dos açorianos que desnbarcaram em Santa Catarina no distante século 18.

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